“Todos os dias quando acordo, não tenho mais o tempo que passou.” Renato Russo
O Riachuelo disputaria naquela tarde a última partida do primeiro turno do campeonato juvenil de basquete.
Maurício, técnico da equipe desde o início do ano, não sabia mais o que fazer para melhorar o desempenho do time.
Os meninos treinavam bem, mas, na hora do jogo, a ansiedade dos jovens atletas colocava tudo a perder.
O nervosismo era conseqüência da vontade de chegar à divisão principal, o que, para a maioria, também representava a oportunidade de melhorar de vida.
Maurício, treinador novato, conseguira o título infanto-juvenil na temporada passada e buscava se firmar na profissão.
Tudo o que tentara, até então, não fora suficiente para fazer com que os jogadores ficassem à vontade durante os momentos de competição.
Enquanto refletia sobre o conteúdo da preleção que logo faria no vestiário, foi surpreendido com a pergunta de um senhor bem idoso que dele se aproximou.
- Será que eu poderia falar com os meninos?
Maurício imediatamente reconheceu o interlocutor. Era o velhinho solitário que ficava sentado, no último degrau da arquibancada, há algumas semanas, acompanhando os treinos e os jogos.
Maurício hesitou na resposta. Receava o efeito da fala sobre os atletas e, mais ainda, uma possível reação debochada dos adolescentes que pudesse constranger o orador.
Acabou permitindo, tendo apenas solicitado que a exposição fosse curta já que o aquecimento dos jogadores estava prestes a se iniciar.
- Meninos! Minha avançada idade permite que os chame assim. Há muitos anos atrás, neste mesmo ginásio, vesti o uniforme que hoje vocês estão usando. Fiz parte do time juvenil que conquistou o primeiro título estadual do Riachuelo. Fui dos poucos que chegou até a divisão principal. Ao contrário do que podem estar pensando, não fiz carreira como jogador. A vida me levou para outros caminhos. Felizmente, à custa de muito esforço, tive sucesso na vida profissional. Na vida pessoal vivenciei muitas alegrias e algumas tristezas. A maior delas, a perda recente da companheira de tantos anos, me fez ver que a vida já soprava
Maurício nada acrescentou à preleção, mandando os meninos diretamente para o bate-bola. Naquele dia, pela primeira vez, viu seu time jogar como era capaz.
No returno do campeonato, ganharam quando puderam e perderam quando não foi possível vencer. O título não veio, mas, sem saber, já tinham recebido o troféu: a lição do velhinho que passaram a entoar, a seu pedido, em cada grito de guerra antes das partidas - o agora é para sempre.
Arthur Narciso - setembro de 2007
3 comentários:
Arthur
Bem-vindo ao blog com um texto excelente. Gosto muito quando vc diz que no basquete o tempo pára quando a bola não está em jogo e na vida não.
Continue prestigiando
Abs
Fabio
Oi Arthur,
Uma crônica linda, sensível e com uma mensagem maravilhosa.
Abs,Mariza.
29/9/2007
Prezado Arthur,
Tê-lo de volta ainda que virtualmente, representa muito para a nossa Oficina. Gostei da imagem que associa as intensidades da vida e do vento. Coisa de gênio.
Um abraço, Therezinha
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