Por Carlos Eduardo Novaes
O que pouca gente sabe é que tudo obedeceu a um plano traçado e executado à perfeição. Tem algum tempo que um grupo de senadores – 40 para ser preciso – com inveja do espaço que a imprensa dedicava à Câmara dos Deputados – por razões obvias – resolveu reagir para tirar o Senado das sombras.
- Precisamos fazer alguma coisa! – berrou o líder em uma das reuniões – Ninguém fala do Senado. Só quando morre um senador. Daqui a pouco ninguém saberá que o Senado existe!
O grupo se reunia nas madrugadas de Brasília à procura de um bom motivo que pudesse levar o Senado de volta às manchetes. Não era uma tarefa fácil: os senadores, como membros da Câmara Alta, sempre primaram pela discrição e pelo respeito às normas constitucionais. Uma noite, há quase cinco meses, já estavam quase desistindo do plano quando foram surpreendidos por um colega entrando esbaforido:
- Pegaram o Renan Calheiros em um escândalo. A noticia sai amanhã na imprensa!!
- O Renan??? – berrou o líder levantando-se – O Presidente do Senado? Do nosso Senado? Não acredito!
- Taí o que procurávamos! – exultou um colega – Deus ouviu nossas preces!
- Conta!Conta! – pediram todos ao colega que acabara de chegar
O recém-chegado detalhou os pormenores da matéria da revista e todos se abraçaram felizes.
- Amanhã o Senado volta às manchetes – disse um deles erguendo uma taça de vinho
- Sim – comentou um mais ponderado – mas precisamos pedir ao Renan para não renunciar depois de amanhã ou passaremos como um cometa pelas manchetes!
Os 40 senadores foram dizer ao Renan para resistir e não abrir mão do cargo. Amarrar-se na cadeira da Presidência se for preciso, pediu um colega. Renan repetiu o Fico de Pedro I, mas solicitou que os senadores fizessem sua parte para ajudar a manter acesa a chama do Senado. Foram noites intermináveis de reuniões e discussões na busca da melhor estratégia para o dia do julgamento.
- Vamos abrir a sessão para o público?
- Negativo – rebarbou o líder
- Sessão secreta é inconstitucional!
- Por isso mesmo! Se for uma sessão igual às outras é capaz de só sair uma notinha. É isso que você quer?
- Mas o Senado é uma casa do povo brasileiro. É ele que nos sustenta com suas contribuições!
- Mais uma razão para deixá-lo de fora. Já pensou? O Senado talvez ganhe até um Caderno Especial.
Alguém lembrou que uns deputados haviam ganhado uma liminar do STF e iriam assistir ao julgamento.
- Já falei com nossos seguranças. Vamos enchê-los de porrada. Isso vai nos garantir umas boas fotos na primeira página.
- Você não acha que estamos indo longe demais?
- Veja! Essa é a grande oportunidade do Senado de ficar conhecido até no exterior. Não podemos perdê-la.
- Só mais um detalhe. Vamos gravar e taquigrafar a sessão?
- Bem que eu gostaria, para que meus netos soubessem do que fomos capazes. Acontece que é isso que eles esperam que a gente faça. Não gravar nem taquigrafar sempre pode render mais uma manchete.
Na manhã da quarta-feira 12 de setembro os 40 senadores chegaram à Casa dispostos a – como haviam combinado – se unir à oposição e condenar Renan Calheiros, na certeza de uma estrondosa repercussão que botaria o Senado em todas as mídias. Pouco antes do inicio da votação, porem, o líder do grupo convocou uma reunião de emergência no banheiro e anunciou uma mudança nos planos:
- Vamos votar a favor do Renan!
- Você não disse que era melhor cassá-lo?
- Esqueci de um detalhe: tem três representações contra ele aqui no Senado. Se for cassado agora, entrará outro presidente e ninguém se interessará mais nem pelo Renan nem pelo nosso Senado.
- Valeu, chefe! Vamos continuar fazendo as coisas como NÃO devem ser feitas.
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2 comentários:
Pô, Novaes, como é que vc revela o plano dessa cambada assim, sem dó nem piedade?! Acertou na mosca!!!
(Engraçado, não sei se é de tanto o Fábio fazer a Oficina e ter aprendido a lição direitinho, mas achei sua crônica muito parecida com o estilo dele. Ou melhor, vcs têm um estilo muito semelhante! Muito bom, por sinal!)
Beijos,
Ana Prôa
Adorei a sacada, Novaes! Gênio é gênio. A gente aplaude.
Bjs, The
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