domingo, 23 de setembro de 2007

A devastação

A Devastação


Acordei sacudido pelos tremores e suor abundante.
O pijama grudado na pele e o lençol todo molhado.
De quando em quando os pesadelos me assolavam, trazendo-me as lembranças.
Dei uma tragada no cigarro e as cenas começaram a passar em flash-back.
Conhecemo-nos em um baile de formatura.
Dançamos apaixonamo-nos e casamos.
Foram cinco anos de companheirismo e felicidade.
Tudo começou a mudar após o falecimento de minha sogra.
Soube por sua irmã que ela ficara transtornada, quando sua mãe em seu leito de morte segredara-lhe alguma coisa.
Não se abria comigo, pelo contrário, afastava-se cada vez mais.
Passou a me evitar, sempre tinha uma desculpa.
Aquela mulher apaixonada, fogosa ,impetuosa, que ardia de prazer
no ato do amor, não existia mais; levando-me a suspeitar que existia outro em sua vida.
Naquela noite,após uma festa em que abusáramos da bebida, fomos para a cama.
De repente tudo voltara.
A paixão, a entrega, os carinhos ousados,a permissividade.
Até que começou a murmurar em meu ouvido:
“Me bate,vai bate,com força, mais força, me ajuda, me livra deste pecado da luxúria para que não arda no fogo do inferno como minha mãe”.
Devastado pela paixão e pelo álcool, atendi seu pedido.
No dia seguinte, acordei com o som insistente da campainha.
Levantei-me trôpego,zonzo,do efeito da bebida e abri a porta.
Era a polícia.
Confirmaram o meu nome e me deram voz de prisão.
“Assustado, balbuciei tratar-se de um engano,pois estávamos dormindo”.
Foi quando me dei conta dos meus trajes.
Olhei meu pijama e, constatei horrorizado que estava todo respingado de sangue.
Corri para o quarto chamando-a, e encontrei a cama vazia e o lençol manchado de sangue.
Fui fichado, processado, humilhado,perdi a honra,a dignidade o emprego e os amigos.
Desprezado pela transgressão que cometera, cai no reino de Plutão.Onde no Hades, nos labirintos da minha consciência
purguei meu pecado, de ter perdido a razão devastado por uma paixão insana.
Tempos depois, cruzamo-nos na rua.
Fingiu que não me viu.
Observei-a: bonita, viçosa, aliança na mão esquerda e feliz.
Afinal, tinha sido expurgada do demônio da luxúria.

..

Mariza Reis Gabaglia

2 comentários:

Fabio Bastos disse...

Marisa
Fico contente em ver que vc conseguiu aderir ao blog. O texto que vc colocou tem a sua marca, cruel e verdadeiro. No estilo Nelson Rodriges.
Parabéns
Sds
Fabio

Rosária Farage disse...

Chocante! Os pecados são mesmo avassaladores.