CARMEN FONTOURA
O presente é o passado sem o futuro. Precisava escrever sobre o tema, mas algo não me agradava na frase. Talvez seja o fato de que o passado esteja sempre em nós e, se nós estamos agora, o passado também está. E o futuro? A Deus pertence, dizia minha avó, no passado já passado mesmo. Então, o futuro não pode ser sem o passado. Presente, passado e futuro são interligados.
No entanto, hoje, aconteceu algo que fez com que a frase tivesse sentido. O cachorro do meu pai morreu. Sem ambigüidade, embora meu pai sempre diga que aquele cachorro é, ou era, o seu dono e ele o cachorro, o cãozinho se foi. A tristeza de meu pai me comoveu. Aquele homem forte e grande tornou-se tão frágil. Tão pequeno. Eu poderia até levá-lo no colo.
Pingo só faltava falar. Era esperto, alegre e, o melhor de tudo, alegrava meu pai. Aprontava das suas, mas era educado. Comia a comida que, por acaso, era esquecida próxima a ele, mas o bicho era esperto... Bobeou, dançou! A criaturinha de quatro patas era a companhia do meu pai, o seu amigo, o seu cúmplice de preguiças e tardes vazias.
A dor de meu pai me fez entender a frase. Hoje o presente de meu pai é um futuro sem o passado, sem o amigo, sem o companheiro, sem o seu cúmplice. Mesmo triste, existe um futuro. Existe uma vida. A vida continua. Pingo já é saudade. E as palavras se calam.
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