No Hospital Souza Aguiar no centro da cidade do Rio de Janeiro, na década de 70, havia um padre já bem idoso com sotaque alemão, que era o responsável pela capela que existe até hoje no pátio do hospital. Toda segunda feira, ele subia ao quarto andar, onde ficavam as crianças internadas, para dar a sua benção. Eram 6 enfermarias com 10 leitos cada, e na época as crianças ficavam sozinhas nos leitos, desacompanhadas de suas mães.
O padre não tinha tempo para passar em todos os leitos, e ele então andando com seus passos lentos, arrastando as sandálias, embora não sendo médico, ia direto aos mais graves. Tinha um faro clínico melhor que o de muitos doutores, e acabava encontrando sua “vítima”. Era ele “benzer” com o “pelo sinal” e no máximo 2 dias depois a criança falecia.
Era uma extrema-unção premonitória!
Como sua fama chegou a seus ouvidos, ele começou a fazer visitas sem dia certo.
Na UTI ele era proibido de entrar. Os médicos alegavam que era para evitar contaminação, e ele a contragosto voltava para sua capela.
As enfermeiras e os médicos, quando ele entrava no setor de pediatria, corriam a esconder as crianças “em risco”, mas de nada adiantava. O homem com seu faro pressentia a gravidade, e acabava encontrando sua “vítima”. A frase “rápido que lá vem o padre “ ficou famosa, mas pouco adiantava.
Alguns casos, talvez aumentados por sua fama, corriam pelo hospital :
Dizem que certa ocasião ele entrou numa das enfermarias se confundiu e “benzeu” uma criança que estava para ter alta, pois a que ele tinha “escolhido” no leito ao lado, tinha descido para o Raio X.. Dito e feito: no dia seguinte a criança ao invés de ter alta começou a apresentar febre, evoluiu com pneumonia e teve que ser transferida para a UTI com insuficiência respiratória e acabou falecendo.
Finalmente ele ficou muito velhinho e com dificuldade de locomoção, passou a só ficar na capela até o fim dos seus dias, pois padre, a exemplo do Papa, não se aposenta.
Dizem as más línguas, que faleceu após um “pelo sinal” que fez nele mesmo, que por via das dúvidas ele sempre evitava fazer, limitando-se ao sinal da cruz.
Outros dizem que foi suicídio...
4 comentários:
Olá Paulo,
a crônica é baseada num fato real?
De qualquer modo está ótima!
Parabéns!
Maria Teresa
Paulo,
Achei a crônica bem estruturada, com um final perfeito.Ganhou um estilo suspense que ainda não tinha visto vc escrever. E o fez muito bem.
Abçs, The
Paulo
Boa crônica! Se o tal padre existiu ou não é irrelevante. O importante é que vc criou um personagem interessante. O final é excelente.
Sds carnavalescas
Fabio
Gostei muito tabem! :)
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