domingo, 20 de janeiro de 2008

Ao padroeiro

Maria Teresa Garcia

Hoje, seu dia São Sebastião, não dá para passar em branco pelos inúmeros problemas da nossa cidade. Diz a lenda que foi com a sua ajuda, literalmente, que os portugueses conseguiram expulsar os franceses do Rio de Janeiro.
Realidade ou mito é ao senhor que me dirijo nestas maltraçadas linhas.
São Tião dê uma olhadinha na nossa terra.
Como o senhor sabe, ela está espremida entre o mar e as serras.
O alcaide das serras não é o mesmo da cidade do nível do mar.
As serras estão, em sua maioria, ocupadas por moradias de trabalhadores, gente humilde e honesta que paga imposto queira ou não.Apenas é outro tipo de imposto.
Muitas vezes o pagamento vem através do sacrifício de alguém da família.
O Santo lembra quando os cidadãos ofereciam suas virgens, em holocausto, para que a colheita fosse boa?
Agora não há colheita, apenas o sacrifício. E não mais de virgens.
Qualquer pessoa, de qualquer idade ou sexo, pode ser morta, ou ficar paralítica, por balas perdidas ou dirigidas, apenas exercendo o seu direito de ir e vir.
Quem quer viver aqui tem que pagar. Nem que seja com a vida!
Voltemos aos que vivem no nível do mar: seu alcaide é outro.
Este não quer saber da vida do cidadão, somente do seu dinheiro.
Os pagantes também querem saber pra onde vai o dinheiro.
Limpeza urbana? A cidade está imunda!
Saúde pública? Os hospitais municipais estão a míngua!
Educação? Assim como a saúde, não consta da lista de prioridades do governo.
E aí São Tião? O que dá pra fazer?
Se olhar com bastante atenção, verá que o alcaide do nível do mar traz traços semelhantes a um outro, este um corso, que foi o responsável pela fuga da família real portuguesa para o Brasil.
Fugindo dos franceses, eles se fixaram no Rio de Janeiro.
Aí, dizem, começaram as mazelas: favelização, mais impostos, aumento do tráfico (naquela época apenas de escravos) e exploração desenfreada de todos os nossos recursos.
Viu no que deu ajudar a expulsar os franceses?
Não que a coisa fosse ficar diferente mas, pelo menos, falaríamos francês.
O senhor há de concordar que é muito mais “chic”.
Agora, falando sério São Sebastião, o senhor nos ajudaria a expulsar os todos os alcaides? Promete que vai pensar no assunto? Amém.

3 comentários:

Paulo Borchert disse...

Teresa,
Que bom que sua criatividade voltou aos bons tempos. São Tião é ótimo!
E a crônica também!
Pena que o nosso alcaide nunca irá lê-la...

Arthur disse...

Teresa,

Pode colocar mais uma velinha por minha conta.
Aquele abraço,
Arthur

Fabio Bastos disse...

Maria Teresa,
Ótima estréia. Um texto crítico e bem humorado. Uma crônica clássica.
Bjs
Fabio