Fabio Bastos
No calendário o seu início é lá pelos meados de dezembro, mas é em janeiro que a cidade entra pra valer no clima de verão. É a estação com a cara do Rio. Praias cheias de crianças, mamães, babás, velhos, turistas, surfistas, vendedores ambulantes, catadores de latas, rapazes sarados e moças de corpos dourados. Para aplacar a sede e espantar o calor haja água de coco, mate gelado, refrigerante, refresco e sorvete. Pouca roupa e muito protetor solar. Mulheres exibem corpos bronzeados em vestidos leves deixando-as ainda mais sensuais. A minissaia, inventada na Inglaterra, é o uniforme oficial do verão carioca. Homens suados vagam pelas ruas com paletós nos ombros em busca de um papo amigo e de um chope gelado.
O dia insiste em não terminar e dar lugar à noite. É época de aplaudir o pôr do sol no mar, um privilégio carioca. O calor não dá tréguas. Sol escaldante e asfalto amolecendo. Termômetros beirando a casa dos quarenta. Ar condicionado a pleno vapor gotejando nas calçadas e nos pedestres. É cruel com quem tem que trabalhar, a cidade deveria entrar em recesso de verão.
Fevereiro é o começo oficial do ano letivo, embora aulas pra valer só em março. É também o mês do carnaval, o grande momento do verão. Banda de bairro, bloco de sujo e baile gay. Travestis e mulheres se misturam e se confundem num festival de silicone e sacanagem. Sapucaí, fantasias, plumas, baterias, alegorias e muita mulher pelada. Mudam os enredos, mas a mesmice continua. Genitália desnuda já não impressiona mais. Talvez uma cópula ao vivo faça sucesso: preliminares na concentração, evolução na avenida e apoteose na praça do mesmo nome. Sempre mantendo a harmonia e sem atravessar o samba para não perder pontos.
Em março os turistas já se foram e a cidade entra em ritmo de trabalho. Mas as praias continuam cheias com os termômetros ainda em alta. É o carioca que se despede dos últimos momentos da estação. O horário de verão já terminou, a noite expulsou o dia e retomou seu lugar no firmamento. Nuvens carregadas e ameaçadoras se formam no horizonte. Temporais desabam nos fins de tarde alagando ruas e transtornando a vida da cidade. São as águas de março fechando o verão e a crônica.
Janeiro 2008
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3 comentários:
Retrato muito positivo do Rio no verão! Uma legítima "fabiografia" (radiografia dos fatos, sob a visão descontraído do Fábio Bastos!).
Beijos!!!!
Verão carioca visto por dentro, em texto temperado com a verve do Fábio.
Aquele abraço,
Arthur
Fábio,
crônica perfeita e final genial!
ADOREI!!!
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