quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Ao Leitor

Therezinha Mello

Brás Cubas, meu caro defunto autor, sou uma de suas leitoras. Uma “alma sensível”, se prefere assim. Vá lá! Chove há dias no Rio de Janeiro. O mau tempo me fez lembrar a “chuvinha triste e constante” do dia de sua morte. Acabei aqui, mergulhada na “bergère” da sala, com uma bela edição das “Memórias Póstumas” nas mãos. Este, sempre será para mim um exemplar único. Mas, saiba, custou-me bem mais que os duzentos réis que você previu. Posso me considerar uma “bibliômana”. Como naquele capítulo quase suprimido: o setenta e dois. E ponho-me a folheá-lo bem do jeito que você imaginou: “devagar, com amor, aos goles...”.

Esbarrei na sua dedicatória ao verme. Àquele que primeiro lhe roesse “as frias carnes” do cadáver. Nada mau para quem decidiu começar as memórias, não pelo princípio, mas pelo fim. Você confessou seu especial gosto pelos epitáfios. Eu admito um particular fascínio por dedicatórias. Tanto assim que, na página seguinte, outra me seduziu imediatamente: é dirigida “Ao Leitor”. Senti-me contemplada. E estou à vontade para lhe dizer que dispensei o piparote. Pague-se da tarefa, porque a obra me agrada. E muito. Talvez eu não esteja entre os seus finos leitores. Conformo-me de estar entre os fiéis. Entre os fiéis e críticos. Pronto. Estaria certamente entre os cinco, se os seus temores tivessem fundamento: “se este outro livro não tiver os cem leitores de Stendhal, nem cinqüenta, nem vinte, e quando muito dez. Dez? Talvez cinco.”.

A expectativa em relação aos leitores é um sentimento comum no escritor. Mas sua conta chegou a cinco! Modéstia? Ironia? Ou seria a “sede da nomeada”? Eu acho que você queria o “amor da glória”. Sim senhor! Já imaginava que, mesmo agora, um século depois, ainda teria muita gente se perguntando que idéia foi aquela de inventar um emplasto anti-hipocondríaco. Melhor ainda, o Emplasto Brás Cubas! E a certa altura me pede para decidir entre o seu tio cônego que defendia a “glória eterna” e outro, oficial, adepto do “amor da glória”. E me dá as costas, voltando ao emplasto! Pois não me interessaram os seus tios. Voltei ao emplasto junto com você. À idéia que fazia malabarismos no seu cérebro. Cabriolas.

Mas, devo lhe dizer. Eu fui, entre as que leram suas memórias, uma das que tremeram por Eugênia. Ela merecia melhor sorte. E o amava, com rara sinceridade. Mas, como são insensíveis os homens! Você teria se deixado ficar a vida inteira no Alto da Tijuca, não fosse a coitada “coxa de nascença”. Confesso que acreditei nas suas boas intenções enquanto você divagava: “Por que bonita, se coxa? por que coxa, se bonita?”. Bendisse aquela “borboleta preta” que lhe “adejava o cérebro”. Mas, cruel como todos, você desceu a Floresta da Tijuca deixando sua “Vênus Manca”. Ela que se entendesse com a idéia fixa de se casar com o jovem Brás, não é? Mas, para meu consolo, você também disse que não há nada suficientemente fixo neste mundo. E não há mesmo. Não há. Só não lhe chamei de cínico. Engano seu. Concordo quando diz que foi, apenas, homem. E os homens são assim. Insensíveis. Foi isso o que eu pensei. “Pela coxa de Diana!”. Você foi insensível.

Muito do que li em suas Memórias, só agora posso de fato compreender. É que hoje tenho sessenta e quatro anos “rijos e prósperos” como eram os seus, quando seguiu para o reino desconhecido de Hamlet. Delicio-me com a sensação que lhe o surpreendeu ao voltar da missa com Eulália, descendo o morro do Livramento. A companhia da jovem provocou-lhe a sensação de rejuvenescer. Começou a caminhada na maturidade, chegou jovem ao final da descida, “deixando aqui dois anos, ali quatro, logo adiante cinco”. Peguei-me a aprender com o amigo defunto, o segredo da vida eterna!

Quisera ser o “espírito profundo e penetrante” que você, generoso, me atribuiu já pelo final das memórias. Apenas procuro decifrar a vida. E aceitar o inesperado. Por isso acabamos nos entendendo tão bem, meu caro. Como imaginar que Virgília lá estaria a chorar a sua morte nos últimos instantes? “De pé, à cabeceira da cama, com os olhos estúpidos, a boca entreaberta”. E que, “do outro lado do mistério”, você ainda escreveria suas memórias para infinitamente mais que cem leitores ?

Suas palavras finais voltam-se para as “negativas”. De fato, acabam sendo, a esta altura da vida, em maior número do que gostaríamos. É certo que a soma dos anos observa-nos sorrateiramente. Não rejuvenescemos: “a rejuvenescência estava na sala, nos cristais, nas luzes, nas sedas, - enfim, nos outros.”. Mas ficou-lhe, como saldo, não ter tido filhos. Não ter transmitido “a nenhuma criatura o legado da nossa miséria”.

Acomodo-me melhor na bergère, já pensando na miséria humana. E já começo a querer choramingar. Mas Quincas Borba, o nosso filósofo, veio em meu socorro: “- Que diacho!” “a pior filosofia é a do choramingas que se deita à margem do rio para o fim de lastimar o curso incessante das águas.”. O conselho me valeu e muito. Fico com a “pena da galhofa”. Abandono a “tinta da melancolia” e as “rabugens de pessimismo”. Deixo os leitores graves e os frívolos. Fico entre os fiéis. Entre os fiéis e críticos. Pronto.

A Tela

Therezinha Mello

Tive medo de olhar meus próprios olhos na tela. Não choravam. Mas eu chorava. De medo. Desespero. Raiva. Minha angústia de estar viva, ali, estampada. Exigindo resposta urgente. Não podia apagar aquela imagem muda e ameaçadora. Terna e amiga. Braços alongavam-se na minha direção querendo me acolher. O sofá me engolia cada vez mais. Precisava atender ao chamado que não sabia de onde vinha. Ganhei aquele vermute vagabundo do porteiro da noite. Meu estômago doía muito de fome. A comida vinha de um caldeirão imenso. Eu me olhava esperando uma resposta. A vida era mesmo aquele amontoado de perguntas que eu não sabia responder. Quem ligou a TV? Na imagem estou mais jovem. Corte antigo. Louro acobreado. Pintei de louro só pra parecer com aquela cretina. Cabelos alteram a vida da gente. Roupinha feia essa que estou usando. E se desligasse a tomada? A empregada não veio. Tudo estava fora do lugar. Garrafa vazia. Ganhei aquele vermute vagabundo do porteiro da noite. Meu estômago doía de fome. Fugia pelo corredor, escuro e cheirando a mofo. Prédios velhos de Copacabana. Precisava sair dali rápido. Não podia comigo, me olhando o tempo todo. “- Olá Clark Kent!”. “- Tire os óculos!”. Ele tirou mesmo. “– Oi Super-Homem! Me leva daqui!”. Mas apareceu a Lois Lane. Aquela metida. E fiquei a pé na Avenida Rio Branco em dia de passeata. “– O povo. Unido. Jamais será vencido!”. Cinelândia tem telão. Chego afogueada tropeçando no povão. Unido. E vejo minha cara. Exigindo uma resposta. Tive medo de olhar meus próprios olhos na tela.

Estampas com Xadrez

Therezinha Mello

Quero a deselegância das cores descasadas.
E as estampas misturadas com xadrez.
Quero a graça inusitada que não liga pro mundo.
A escolha sem tendência. O tom que combinar com meu humor.

Quero a harmonia atrevida dos desencontros.
E o exagero que agradar meu coração.
Quero a reles pedra falsa e o romantismo das blusas de crochê.
O que não se usa mais. O que se passa adiante.

Quero os mistérios velados das peças esquecidas.
E a ousadia extravagante, fuleira, popular.
Quero arriscar o gosto duvidoso. A imitação barata. Os paetês.
O Lar Doce Lar. O Seja Bem Vindo dos tapetes.

Quero ouvir a canção do bêbado ao garçom do bar.
E a versão banal do sucesso americano.
Quero a flor de plástico.
A folhinha pendurada na parede.

Que encalhem os saldos das vitrines burguesas.
Quero a moda descartada. A coleção passada.
O chique da empregada.
O démodé que escolhi.

Libertem-se os anões pelos jardins !
Que lhes acompanhem Brancas de Neve de cerâmica ordinária. Sapos e cogumelos.
Que cascas de ovo arrematem as espadas de São Jorge.
E que os pingüins ocupem-se das geladeiras.

Quero a deselegância das cores descasadas.
E as estampas misturadas com xadrez.

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Ciranda

Therezinha Mello

Na ciranda das primeiras infâncias eu girava. Cirandinha. Tímida. Pés miúdos sobre o cimento do quintal. Tudo era leve e fluido. Experimentava o mundo, em dança que não tinha pressa. Seguia cirandando como se nada mais fosse necessário. Ou urgente. Em meia volta divertida e tonta. Todo retorno era possível àquela altura. Girava a ciranda solta dos corações ingênuos. Meia volta. Volta e meia. Na singeleza do universo de poucas notas e muitas canções.

“- Depois vai ter que falar um verso.”. “- Qual?”. “- O Sou Pequenininha!" “- Esse não. Todo mundo já sabe.”

Todos cirandavam. Quando a mão desgrudou-se da minha, eu nem esperava. O gesto brusco fez quebrar o anel de vidro. O que tu me deste. Meus dedos tatearam entre cacos minúsculos. O desespero de não poder colar. No dedo a marca. O elo que se foi. Ficou-me algo do amor que me tinhas. Que era muito, mas que acabou assim mesmo. O amor que tu me tinhas se acabou. Hoje não uso anel e evito amores. Porque sei que já não vamos todos cirandar.

Na ciranda das novas infâncias, a descoberta de que o giro permanece. Na roda de cada hora a fria constatação. Quem sai. Quem entra. Quem vai embora e nem diz adeus. Nem um verso, mesmo não sendo bem bonito. Nem ciranda, nem cirandinha. Já não há mais tempo para dar a volta. Outras mãos entrelaçaram as suas fortemente. As minhas também já possuem novos pares. Nova ciranda começa. Vamos todos. A dança de hoje tem mais pressa.

terça-feira, 18 de agosto de 2009

Solidão Absoluta

Therezinha Mello

O filme Luz Silenciosa, do diretor mexicano Carlos Reygadas, passa-se numa comunidade de menonitas. Um grupo religioso fechado que mantém seus costumes ao longo de séculos, de forma radical. Falam um dialeto. Os hábitos são muito simples, os costumes rígidos. Vivem com o mínimo necessário. São poucos, numa convivência restrita.

A certa altura, o protagonista Johan admite estar traindo a mulher Esther. Sente pela amante atração irresistível. Sofre. Mas o desejo é maior que tudo. A certa altura Johan e Esther seguem de carro por uma estrada de barro, sob chuva torrencial. O diálogo, embora contido, é forte e sofrido. Falam do caso extraconjugal de Johan. Esther pede ao marido que pare o carro. Chorando, desce, apanha o guarda-chuva e pede para que não a siga.

A cena seguinte mostra Johan andando pela mata, ainda sob forte chuva, à procura da mulher. Percebe, ao longe, seu corpo caído. O guarda-chuva afasta-se, levado pelo vento. Ele a traz nos braços. Esther está morta. Segundo os médicos, sofreu uma síncope cardíaca. As tomadas seguintes mostram o funeral de Esther.

Em determinado instante ela abre os olhos. Tinha sofrido uma narcolepsia. O filme, de uma luz inesquecível, e que começara com um belo amanhecer, termina num anoitecer que fecha a história e um ciclo de vida. Semeia em quem assiste a urgência de rever Reygadas. Sua luz tem muito a dizer. Esther e Johan algo a viver ainda, juntos.

O instante em que Esther deixa o automóvel e segue sozinha é determinante. Algo a impele à solidão absoluta. Ali ela acaba sucumbindo à dor imensa de saber que Johan tem outra mulher. O marido é um homem bom, mas o desejo humano sobrepõe-se à rigidez dos costumes e da moral. Esther não tem como reagir. Percebe-se totalmente só.

Os jornais desta semana falam da morte do economista Gabriel Buchmann. No Malauí, país africano entre os mais pobres do mundo. A vila de Mulanje, ao pé da montanha, é de uma pobreza impressionante. Vivem com muito menos do que precisam. A mesma força que levou Gabriel a conhecer vinte e seis países em um ano perseguindo um sonho, estranhamente o levou a dispensar o guia. Algo o impulsionou à solidão absoluta, a partir da convicção de que conseguiria sozinho. Um momento de autoconfiança exagerada. Ou de necessidade de abraçar todo o prazer daquela conquista, sem nenhuma companhia. Acenando para uma tela digital, chorando de alegria.

Veio a mudança de tempo. A adversidade da natureza que também acabou matando a Esther de Reygadas. Na ficção, Esther voltou a sorrir consciente, depois de horas de um sono tão profundo quanto assustador. Gabriel não teve a mesma sorte. Sua morte é definitiva. Morreu de frio, às vésperas de retornar ao Brasil. Era um lugar bonito e tranqüilo. A luz, deslumbrante. A solidão, absoluta.

domingo, 16 de agosto de 2009

Ah! Se tu soubesses!

Therezinha Mello

Setembro de 1968. Aquela poderia ter sido apenas mais uma saída para o fotógrafo Walter Firmo. No subúrbio de Ramos, Rio de Janeiro, morava Pixinguinha. Walter chegou, acompanhado do repórter que entrevistaria o músico. O quintal sombreado por imensa mangueira. Um bucólico jardim com dálias e rosas. A cadeira de balanço austríaca - encosto protegido por tecido estampado - esquecida sob a árvore. Pronto o cenário. Terminada a entrevista, Walter convida o Mestre para sentar-se ali e deixar-se simplesmente fotografar. Ele, generosamente, atende ao pedido.

Um fotógrafo nunca tem certeza da boa foto. Ela é um instante, que pode perder-se, para nunca mais. Há que insistir e acreditar. Especialmente em tempos não digitais. Contava com trinta e seis poses. A oportunidade era única. Walter estava diante do mestre Pixinguinha. Longe do palco. Recostado à cadeira. Reflexivo. Calça branca, paletó azul. Às mãos, o saxofone. Walter disparou o primeiro clique.

Um momento eterno e de plena mansidão. O músico era captado em flashs, no silêncio da antiga Rua Pixinguinha. No lento balançar fechou levemente os olhos. Não precisava falar. A flauta e o velho sax já haviam dito quase tudo. Começara a tocar muito cedo, entre a bola de gude e a pipa. “- Pizindim, Pizindim, você tem a “cabeça boa” pra música.”. O apelido que a avó africana lhe havia dado ficara para sempre. Virou Pixinguinha. Matava aula pra tocar na Lapa. E, ainda por cima, vestindo o uniforme do São Bento! Ê tempo bom!

As cenas passavam-se rápidas. Toda a sua vida cabia ali, sob a mangueira florida, bem ao lado do seu jardim. As fotos seguiam. As lembranças também. Os velhos companheiros Donga e João Pernambuco. A casa de Tia Ciata: choro na sala e samba no quintal. Os pensamentos eram como notas musicais. Tinham sempre destino certo. Nunca se perdiam.

Naquele ano comemorava setenta anos. Setenta e um. Ele era meio distraído. Tinha oficializado o registro de batismo com um equívoco no ano de nascimento. Só ele mesmo! Pra comemorar, iam fazer um espetáculo no Teatro Municipal. Pensou que, há mais de cinqüenta anos, era um dos Oito Batutas. O conjunto apresentara-se naquela mesma Avenida Rio Branco. Na sala de espera do Cinema Palais.

“- Mestre, terminamos.”. A voz forte de Walter Firmo concluía a sessão de fotos. “- Eu prometi que seriam só cinco minutos!”. Ele sorriu de um jeito calmo. Bonachão. Os amigos de Pixinguinha costumavam lhe chamar de santo. Talvez pela nobreza de coração. Ou pelo talento, divino com toda a certeza. Muito acima do que quer que possamos considerar mortal. Vinícius chegou a dizer certa vez que, “se não fosse Vinícius, queria ser Pixinguinha”. Aquela tarde talvez tenha sido um de seus momentos contemplativos, em que levitou sem ninguém perceber. Buscou-se a si mesmo num vôo solo e tranqüilo. Despertou-o a última foto.

Walter deixou o subúrbio de Ramos de volta à revista Manchete. Sabia que suas lentes haviam captado imagens que ficariam para sempre. Do portão, Pixinguinha acenava com seu jeito simples de estar no mundo. Em passos brandos, o encantador maestro Alfredo da Rocha Viana retornou à sua sala de estar. Era como se tivesse andado léguas. Não há dúvida de que tinha ido muito mais longe do que pudera sonhar. Do que mestre Batina, o primeiro professor, poderia supor. Continuaria seguindo em frente. Na companhia da flauta, do sax e do antigo piano. Parceiros definitivos nos acordes geniais de “Rosa” e “Carinhoso”.

sábado, 25 de julho de 2009

RENATO DE NOVO


Rosária Farage

Meu filho se chama Rodrigo por causa do Renato Gaúcho. Com seis meses de gestação confirmei na ultra-sonografia que era menino e quis escolher um nome, que assim como o meu, começasse com a letra erre. O pai sugeriu Renato. Gostei. Até lembrar do sujeito arrogante que jogava no Flamengo. A imagem que o jogador passava naquela época não era muito diferente de agora. Mas a camisa que ele usava agravava minha antipatia.

Vinte anos se passaram e desde então muita coisa mudou. O adversário virou ídolo com um gol de barriga que valeu o titulo estadual para o Fluminense, time do meu coração. Isso foi em 1995 quando sua história com o clube das Laranjeiras estava apenas começando.

Hoje, Renato Gaúcho é o novo técnico tricolor. Ele assume pela quinta vez o cargo e divide opiniões. Alguns torcedores acreditam que sua presença possa motivar o elenco de tal forma que as vitórias logo apareçam para mudar de imediato a posição na tabela. Entretanto, existem aqueles que ainda não esqueceram que foi justamente na zona de rebaixamento que ele deixou o time no ano passado.

A paixão pelo futebol pode ultrapassar a razão. Por esse motivo ao invés de lembrar as promessas não cumpridas do treinador, prefiro deixar na memória a emoção de ver o Maracanã lotado em verde, vermelho e branco. Renato Gaúcho nos levou a final da Libertadores e conquistou a Copa Brasil. Ele pode não ser um exemplo. Mas tem lá seus méritos. Podia até chamar René Simões. Jamais Carlos Alberto Parreira.


Rosária Farage
Equipe de Produção
Programa Balanço Esportivo na CNT
rosariafarage@releasenet.com.br

sábado, 11 de julho de 2009

"Essa é a bunda"

“Essa é a bunda”

Paulo Borchert

Os jornais desta sexta feira, 10 de julho de 2009, mostram em suas primeiras páginas, a foto de Barack Obama olhando o bumbum de uma moça na reunião do G8 na Itália.

O autor da frase sobre o Presidente Lula – “Esse é o cara!” – com certeza, na hora deve ter pensado em outra frase: “Essa é a bunda!”.

Ele não deixa de ter razão, pois a jovem de 17 anos, que virou literalmente a cabeça do Presidente dos EUA, é Mayara Rodrigues Tavares, uma brasileira de Santa Cruz, no Rio de Janeiro, que estava no G8 como Representante do Fundo das Nações Unidas para a Infância, e como a foto mostra, o “fundo” não poderia estar melhor representado!

Diversos comentários analisando um vídeo com a cena, foram feitos na tentativa de isentar de culpa o Presidente Obama, uns afirmando que ele estava olhando para baixo ao descer a escada, outros dizendo que ele virou-se para ajudar uma outra moça que estava atrás dele descendo a escada. Todos em vão, pois está claro que ele olhou, e fez muito bem, porque o que é bonito é pra se ver, ainda mais que na Terra do Tio Sam as mocinhas não são tão bem dotadas, no quesito derière, como deve ter pensado o outro Presidente Nicolas Sarcozy, da França, mas sim no quesito “comissão de frente” se é que me entendem...

Eu sugiro que o Lula faça um convite para Obama vir passar o carnaval de 2010, no Rio de Janeiro, no camarote do Sambódromo, e ele não vai saber para qual lado olhar, e correrá o risco de ter um torcicolo!

Presidente Obama, não fique sem graça, pois aqui no nosso país tem uma frase que tenta justificar a sua atitude : “A carne é fraca”!

V.Excelência poderá traduzir ao pé da letra : “The meat is weak” !

quinta-feira, 9 de julho de 2009

Hoje o Doutor Não Vem

Pelos anos sessenta, no Rio de Janeiro, ainda contávamos com os chamados médicos de família. Eram, nos bairros e pequenas cidades, a referência que se tinha para tratar, desde unha encravada, até pneumonias ou coisas mais graves. O Doutor era o primeiro a ser consultado e era dele, sempre, a última palavra. Boa parte das explicações de que precisávamos para tocar a vida, nos eram trazidas por ele. Da mesma forma, também boa parte dos alentos, não só para o corpo, como também para o espírito.

Quando criança, além do físico franzino, eu choramingava por qualquer motivo, em casa ou na escola. Fortificantes e estimulantes de apetite me foram prescritos. Garranchos, decifráveis somente pelo farmacêutico, aumentavam grandemente a importância desses medicamentos. O choro sem motivo foi considerado por minha mãe “bobagem de criança”, diagnóstico confirmado pelo Dr. João. Seu modo, ao mesmo tempo firme e benevolente, transformava-o em psicólogo, figura que, àquela altura, não fazia parte do nosso universo.

Dr. João vestia-se de terno escuro e tinha voz forte e grave. O consultório ficava ao lado de uma farmácia onde, no balcão, minha mãe pagava a consulta e recebia uma ficha. Eu me distraía observando potes de Glostora, envelopes de Melhoral e frascos de Biotônico Fontoura expostos na vitrine. A seguir, a sala de espera. Aí começava meu suplício. Num determinado momento, ouviria uma voz aterrorizante: “-Boa tarde!”. E o Dr. João adentraria ameaçador. Atravessaria a sala de espera com sua maleta, passos firmes, e entraria no consultório fechando a porta atrás de si.

Enquanto esperava esse momento, eu rezava para que alguém dissesse: “- Hoje o Doutor não vem!”. Ficava imaginando minha mãe levantando-se contrariada, levando-me pela mão de volta pra casa. Eu, feliz, livre da consulta que me amedrontava. O fato é que tinha um medo enorme do Dr. João. Na maioria das vezes o resultado da visita era uma série de injeções que eu detestava tomar. Além do mais, a voz grave e forte tinha o poder de me assustar e muito. Mas ele nunca faltou. Nunca. Com o tempo, sem opção e a contragosto, acabei me acostumando com a idéia de vê-lo periodicamente. A vida me fez perdê-lo de vista, apesar de guardá-lo nitidamente na memória.

Os médicos de família são hoje muito raros. Durante várias décadas, no entanto, pude manter esse privilégio. Um novo Doutor, o cardiologista Jaime Freitas, tornou-se para nós essa espécie de amigo, conselheiro e profissional confiável, competente. Hoje cedo, mal abri o jornal, soube de seu falecimento. Soube, tristemente, que o velho Jaime se foi. É curioso, mas o primeiro pensamento que me veio à cabeça foi a frase que tanto desejei ouvir na minha infância, no antigo consultório do Dr. João: “ - Hoje o Doutor não vem!”. Constatei que, desta vez, se tornou verdade. Hoje, é certo que o Doutor não vem. E tudo o que eu queria era que alguém me dissesse: “ – Ele vem. O Doutor está atrasado. Mas ainda vem.”.

O El Cid de Los Angeles


Assim como El Cid que lutou morto a última batalha, o pop star Michael Jackson também continua atuando enquanto não decidem o que fazer com seus despojos. O show não pode parar e seu corpo insepulto atrai multidões a Los Angeles e garante o faturamento de sua família, de empresários e do comércio local. É o turismo fúnebre. Enquanto seus potenciais herdeiros brigam pela herança, o seu velório virou um mega espetáculo num estádio onde o principal astro compareceria embalsamado, com a aparência não muito diferente das suas últimas performances. Há quem diga que ele já estava morto há bastante tempo e só agora decidiram divulgar.
Entretanto, o velório do astro não devia se limitar à cidade de Los Angeles, o mundo inteiro tem o direito de ver e se despedir do rei do pop. Seus empresários não deviam cancelar a turnê mundial que estava programada, basta colocar o corpo num avião, e nesse caso pode ser um Airbus uma vez que o principal passageiro já embarcaria morto, e sair mundo afora pelos lugares por onde ele passou, do Dona Marta ao Picadilly Circus.
Uma outra hipótese seria não enterrá-lo nunca, deixá-lo embalsamado e transformá-lo numa nova atração da Disney, ou de um parque temático a ser criado no sítio Neverland. Com os recursos tecnológicos e alguns chips no corpo ele poderia até mesmo dar o famoso passo moonwalk. Poderia se dizer então com segurança que, assim como seu sogro Elvis, Michael Jackson não morreu.

quarta-feira, 8 de julho de 2009

A tal da Reforma Ortográfica

Tá todo mundo correndo atrás de absorver rapidamente as novas regras ortográficas baixadas por decreto para a unificação da grafia, por consenso, em países de língua portuguesa. Mais essa agora pra gente assimilar rapidinho para manter um diferencial no conhecimento nesse mercado competitivo. Tenho cá pra mim que vamos aceitar fácil a ideia do infrassom, da autoestrada e do Para Pedro, Pedro para. Mas, o que fazer com os canalhas que não pagaram pelos cacetes simplesmente porque a bicha era muito grande e tinha muito puto? Você ficou zangado porque eu estou indecente hoje? O que é isso, amigo? De forma alguma. Eu estou é preocupada em saber como resolver o problema do Marialva que enfrascou-se e pediu punheta para 5! Você tem alguma sugestão? E isso fora o problema dos Almeidas e das hospedeiras que precisavam de uma pica específica. E agora? Tá achando que ou eu bebi ou perdi as estribeiras? O que é isso, amigo, você me conhece!

Estão todos muito preocupados com a reforma ortográfica, mas já pensaram que jamais seremos unificados nas expressões porque as línguas são distintas mesmo? Não à toa há livros escritos em “brasileiro” e “português”. E esses regionalismos são preciosos e não podem perder-se. Se aqui mesmo, num país continental como o nosso, cada região tem suas características, o que dizer de dois países distintos separados por um marzão? Com culturas e hábitos tão diferentes? Preservamos nossa macaxeira e aipim, nosso sinal e farol, mexerica e tangerina entre tantos.

Agora... o que fazer com as crianças que não pagaram pelos pãezinhos simplesmente porque a fila era muito grande e tinha muito adolescente? Já sabe o que fazer para ajudar o mulherengo resolver o problema de ter se embebedado e pedido bacalhau desfiado para 5? E o que podemos fazer para os garis e comissárias de bordo que precisavam de uma injeção específica ?

Ler. Ler muito. E na leitura, nos enriquecer com tantas expressões curiosas lá da terrinha, muitas vezes engraçadas e embaraçosas que me fazem pensar... problema de reforma ortográfica? Não procure na Coreia, na boia ou na boleia. A acção passou a ser ação, mas a ado(p)ção de ótimos autores portugueses será ó(p)timo para conhecermos mais que um simples voo pode oferecer.

E você ainda está preocupado com hífens e tremas?

Rachel Bassan

domingo, 17 de maio de 2009

Operação Solução Alheia

Esta semana voltei a surfar após três meses fora. Sentado numa prancha no mar a vista da cidade é única. Imagino que somente uma fração dos que moram nesta cidade a conhecem assim. Mas mesmo diante das sombras dos prédios da Vieira Souto que estampam a praia, não consegui evitar certa tristeza. A mata dos dois irmãos, que há dois anos adornam o logo deste blog, está desaparecendo rapidamente.

                A favelização do espaço urbano que já devastou alguns dos mais lindos- sem dizer mais caros- pontos da cidade, agora sobe os pés dos irmãos como uma gangrena irreversivel. A vista do calçadão ou mesmo da praia, não mostra o real desagravo.

Me pergunto, a fiscalização é realmente tão precária que não é possível impedir as construções? Existe fiscalização? Diante deste quadro começo a concordar com a ideia dos muros que encantou tantos cariocas.

            Mas talvez antes de simpatizarmos com medidas tão drásticas, deveríamos ter uma segunda opinião. Afinal sem conhecimento não tem planejamento, e sem os dois nenhuma ação renderá frutos. Pode ser por pura ignorância, mas não consigo pensar em país algum que tenha lidado com uma situação destas, pelo menos com qualquer sucesso. Não é como a solução das bicicletas de Paris que o Sergio Cabral pôde copiar (dá inveja os problemas deles). Nesta linha de pensamento concebi a Operação Solução Alheia (a PF já tomou os nomes bons).

            Na primeira etapa da operação mandaríamos alguns milhares de brasileiros gradualmente aos EUA. Sugiro entrada pela fronteira do México, afinal qualquer coisa entra por lá, menos mexicanos. Tinha pensado numa lista especifica de candidatos, mas creio que o STF precise de um presidente para funcionar, portanto podem ir os servidores públicos, que aparentemente é o que não falta por estas partes, especialmente no senado. Ao chegar, nossos brasileiros tomariam o morro de Hollywood. Lá secariam suas roupas nas celebres letras que vigiam a cidade, montariam seus barracos, e teriam as tarefas de devastar a mata e ocasionalmente perderem umas balas- quantia a ser definida pelo Ministério de Planejamento, Orçamento, e Gestão. Claro, tudo financiado pelo bolsa família. Pronto, agora é só observar.

            Uma equipe mista de sociólogos e parentes de políticos (necessários em qualquer projeto brasileiro) vão analisar como os Estates lidam com o problema, detalhando cada passo num dossiê, muito como o da Dilma. E vapt-vupt!!! Teremos nossa solução.

            No final das contas é só imitar o que fazem lá. Afinal, esta estratégia já antiga tem dado tão certo aqui...

segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

MendigoChic e o FashionRio


    Com o virar de cada ano, o Tempo adquire novos sentidos. Quando era jovem um dia parecia eterno, hoje uma semana pode passar despercebida. Aos oitenta como será? Por isso decidi tentar coisas novas este ano. Para aqueles que me conhecem é obvio que não sei nada de Fashion (como fica aparente no meu estilo MendigoChic: havas e roupas aos pedaços). Mas como frequentei o primeiro dia do Fashion Rio este ano, pensei “que forma mais adequada de começar algo novo, do que sabendo nada.”
    Algumas coisas me espantaram, além das roupas de alguns também freqüentadores, e por isso decidi colocar aqui o que presenciei.
    Primeiramente, como jornalista, ou pelo menos pretendente, fiquei chocado em ver dentro do Lounge do Jornal do Brasil, um agradecimento à NET que até onde eu saiba é da Globo. A Globalização está realmente funcionando, pelo menos no Brasil.
    Também fiquei espantado com o Lounge do Caderno Ela, talvez uma das publicações mais prestigiosas a terem um Lounge, que estava um forno durante as primeiras horas do evento.
    O que mais me espantou porem foi a fila da primeira passarela que foi de uma marca para crianças. No primeiro verdadeiro sol de verão que tivemos no Rio este ano dezenas de pessoas aguardavam ansiosos. Nunca poderia ter imaginado que existia tanta demanda por coleções de roupas de criança. Mas aparentemente, como fui informado por minha amiga e grande jornalista, Julia Morales (http://nossoarmario.blogspot.com), a quem fico muito grato por ter me ajudado a penetrar o evento, o mercado de roupa infante-juvenil no Rio cresce muito.
    Coincidentemente tive uma idéia. Já que a taxa de donos de cachorro no rio é o dobro da taxa de pais, talvez seria um mercado interessante também...camisas do flamengo, chapéus caninos, etc. Procuro investidores.
    Mas eu que nada sei do assunto e até ontem pouco me interessava admito que estava levando o evento meio na farra, observando as beldades presentes, e desfrutando o ambiente agradável da Marina da Gloria. Isso foi até que começou o primeiro desfile. Congelei. As luzes apagaram. O baixo reverberando na tenda. De repente as luzes da passarela acendem e a primeira modelo deslumbra como uma estatua animada. O ambiente, as pessoas, o glamour... eletrizante!!!
Fora algumas coisas risíveis talvez por algum preconceito meu ou pura ignorância, achei o evento super-interessante. Um tribo realmente diferente daquilo que imaginava pela mídia.
    Com isso encero minha primeira nova experiência de 2009. Foi proveitosa pois aprendi algo. E sei que se algum dia ouvir as criticas levianas e costumarias sobre este mundo peculiar, defenderei aquilo que posso. Claro, ainda me vestindo como um MendigoChic.