Therezinha Mello
Tive medo de olhar meus próprios olhos na tela. Não choravam. Mas eu chorava. De medo. Desespero. Raiva. Minha angústia de estar viva, ali, estampada. Exigindo resposta urgente. Não podia apagar aquela imagem muda e ameaçadora. Terna e amiga. Braços alongavam-se na minha direção querendo me acolher. O sofá me engolia cada vez mais. Precisava atender ao chamado que não sabia de onde vinha. Ganhei aquele vermute vagabundo do porteiro da noite. Meu estômago doía muito de fome. A comida vinha de um caldeirão imenso. Eu me olhava esperando uma resposta. A vida era mesmo aquele amontoado de perguntas que eu não sabia responder. Quem ligou a TV? Na imagem estou mais jovem. Corte antigo. Louro acobreado. Pintei de louro só pra parecer com aquela cretina. Cabelos alteram a vida da gente. Roupinha feia essa que estou usando. E se desligasse a tomada? A empregada não veio. Tudo estava fora do lugar. Garrafa vazia. Ganhei aquele vermute vagabundo do porteiro da noite. Meu estômago doía de fome. Fugia pelo corredor, escuro e cheirando a mofo. Prédios velhos de Copacabana. Precisava sair dali rápido. Não podia comigo, me olhando o tempo todo. “- Olá Clark Kent!”. “- Tire os óculos!”. Ele tirou mesmo. “– Oi Super-Homem! Me leva daqui!”. Mas apareceu a Lois Lane. Aquela metida. E fiquei a pé na Avenida Rio Branco em dia de passeata. “– O povo. Unido. Jamais será vencido!”. Cinelândia tem telão. Chego afogueada tropeçando no povão. Unido. E vejo minha cara. Exigindo uma resposta. Tive medo de olhar meus próprios olhos na tela.
quinta-feira, 1 de outubro de 2009
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