Maria Teresa Garcia
Em 1990 minha filha, Patrícia, foi aprovada numa seleção para trabalhar no Banco Central da Suécia. Como nunca havia saído do Brasil e iria morar, sozinha, tão distante de nós, achamos conveniente que ela passasse período em Portugal, com um casal amigo nosso, até a data de sua apresentação em Estocolmo. O que ainda demoraria alguns meses. E lá se foi a nossa Biguti para "Lugar D`Aldeia", povoado pertencente a "Santo Tirço", que, por sua vez é distrito da cidade do Porto. No princípio correu tudo bem. Por não gostar de ficar parada, a futura "intern" do BC sueco, foi plantar batatas, literalmente. Ajudava nosso amigo Manoel na pequena plantação.
Só não contávamos que a endêmica nostalgia portuguesa, cujo principal produto é o fado, fosse atacar uma brasileira, morena de beira da praia. Assim nossa menina entrou em depressão.
Agora preciso fazer um esclarecimento: Biguti foi o apelido que meu sogro colocou na primeira neta, a roliça Patricia, assim que a avistou através da envidraçada janela do berçário. Lamentavelmente não tive curiosidade de perguntar-lhe o significado da palavra e, pouco mais de um ano depois, ele faleceu. Mesmo sem saber o que quer dizer, o apelido ficou e é usado, até hoje, em ocasiões especiais. E aquela era uma ocasião especialíssima.
Em 1990 ainda não tínhamos computador em casa, telefonar para "Lugar D`Aldeia" era impossível e nosso meio de comunicação eram as cartas assim endereçadas:
Patricia - 2ºnome - 1º sobrenome - 2º sobrenome _ tomando todo o cuidado com os desdobramentos do endereço, que era longo.
Combinamos então que nos revezaríamos, escrevendo para ela todos os dias, e colocando o apelido "Biguti", usando parênteses, entre o 2º nome e o 1º sobrenome.
Além da depressão ela passou a conviver com a falta de notícias brasileiras.
Assustada, nossa menina foi a Santo Tirço, de onde nos telefonou e ficou sabendo que as cartas estavam sendo enviadas e eram abundantes pois todas as irmãs estavam participando do revezamento. O total de missivas, não entregues, já beirava os vinte!
Imediatamente Pat/Biguti dirigiu-se ao posto dos Correios onde de nada adiantaram seus apelos, suas lágrimas, a apresentação do passaporte, nem a mostra das outras cartas com seu nome e endereço.
Pois se nestas não constava o apelido "Biguti" era porque não se tratava da mesma pessoa._ E as letras? E os remetentes? Não serviam de prova? - perguntava uma aflita brasileira.Por sorte, lá como cá, existe o célebre QI (quem indica) e um amigo do seu Manoel, era amigo do prefeito e conseguiu, finalmente que as cartas fossem entregues.
Mas, avisaram à menina, para que ficasse bem claro, ser uma deferência ao senhor Prefeito, porque as cartas não lhe pertenciam.
segunda-feira, 21 de janeiro de 2008
Assinar:
Postar comentários (Atom)
2 comentários:
Maria Teresa,
Está mesmo muito boa, pá!
Ora bem, descobri o que significa B.I.G.U.T.I : brasileira, irritada, gritando e urrando, tamanha incompreensão!
Ia mesmo substituir incompreensão por ignorância, porém lembrei que sou brasileiro, mas também português, e que meu filho se chama Manoel.
Aquele abraço,
Arthur
Uma delícia a sua crônica. Fala de costumes familiares, de laços, achei bem ao seu estilo. Parabéns! The
Postar um comentário