sábado, 19 de janeiro de 2008

Cine Pirajá

Paulo Borchert

Nos anos 60, havia alguns cinemas em Ipanema e Leblon, todos na beira da rua. Não havia shoppings.

O Pax, na praça N.S.da Paz, luxuoso, com sua escadaria imponente na entrada e suas poltronas reclináveis, era mais freqüentado pelos mais velhos e no primeiro domingo do mês exibia o Festival Tom e Jerry. O Astória, no Bar 20, enorme e suntuoso, com dois andares e uma linda escada dupla, toda em madeira, que dava acesso ao balcão. Mais tarde foi transformado em TV Excelsior e depois demolido para dar lugar a um prédio de apartamentos. O Leblon que funciona até hoje, era um só, com dois andares. O Miramar, incrivelmente situado na Avenida .Delfim Moreira, isso mesmo, na rua da praia do Leblon!

Mas nenhum deles tinha o charme do “pulgueiro“ Cine Pirajá! Era um cinema muito antigo situado naVisconde de Pirajá perto da Joana Angélica, com suas desconfortáveis cadeiras de madeira e sua tela manchada e encardida, mas era o preferido entre os jovens. Toda segunda e quinta feira, mudava o programa, nunca com lançamentos, só filmes de segunda categoria, e nestes dias na sessão das 8, iam todos, moças e rapazes, ao “Metrinho”, como era mais conhecido, na certeza de diversão e boa paquera, independente do filme. A bagunça era generalizada. Se o filme fosse de terror, algum engraçadinho que já tinha visto, soltava um grito estridente na hora do maior suspense. Tinha um gaiato que possuía um arroto de proporções descomunais ─ se houvesse o Guiness Book na época ele estaria inserido no mesmo com toda certeza ─ sempre soltado no momento mais emocionante e mais silencioso do filme, que era seguido de uma estrondosa gargalhada geral.

Certa ocasião, foi fechado por alguns dias para “reforma”, que não passou de uma água de tinta em suas velhas paredes, e uma tela nova branquíssima, que na primeira sessão das 8, no dia de sua reabertura, recebeu um ovo bem no centro, deixando uma mancha que nunca mais saiu, até o fim dos seus dias.

E assim seguiu no tempo, até sucumbir a proliferação das novelas, filmes na TV e vídeolocadoras. A violência urbana com assaltos nas ruas, tornando cada vez mais perigoso uma ida ao cinema em beira de rua e a explosão imobiliária, foram a gota d’água para seu fechamento.

Hoje, vamos ao cinema de carro, parando nos estacionamentos dos shoppings, com seus cinemas modernos, mas nenhum com o charme e o glamour do velho Pirajá !

5 comentários:

Carlos Melo disse...

Paulo, uma bonita viagem no tempo. Lendo o texto, reportei-me ao Cine Carioca, na Tijuca. Foi o meu "Pirajá". Parabéns.

Fabio Bastos disse...

Paulinho
Uma ótima lembrança. Para mim teve um signifcado especial pois fomos frequentadores assíduos do "Metrinho".
Uma sugestão: nas próximas crônicas use uma letra maior no texto. Quase tive que pegar uma lupa para ler.
Aquele abraço
Fabio

Maria Teresa disse...

Paulo, obrigada pela viagem.
O meu Pirajá foi o Olinda, na Praça Saens Pena, verdadeira Cinelândia da Zona Norte dos anos
50/60.
Abraço

Arthur disse...

Paulo,

Suave nostalgia, remexendo a "poeirinha" da memória.

Aquele abraço,
Arthur

Therezinha Mello disse...

Paulo,
Adoro os textos que nos trazem de volta sensações passadas, que a poeira do tempo encobre, mas conserva intactas. Acho que a gente fica com saudade da gente... Parabéns!