Fernando Goldman
Muita gente me questiona quanto a minha insistência em discutir o caso Isabella. A maioria acha muito estranho eu não ter a mais absoluta certeza da fácil solução da culpa do casal pai/madrasta. Pois eu mesmo já começava a me perguntar se não seria mais fácil eu ceder e aceitar como natural a possibilidade de um pai jogar a filha pela janela. Afinal, o que custa me juntar à quase unanimidade.Aquela história do Nelson Rodrigues de que “toda unanimidade é burra”, já deve ter caducado.
Foi quando meu hábito de deixar a televisão ligada e ir fazer outras coisas, me propiciou a oportunidade de assistir uma participação do Sergio Malandro em um programa de entrevistas.
De uma forma meio transversa, aquele interessante artista me mostrou o por quê de tanta raiva por parte de uma parcela tão significativa da população.
No meio de uma de suas falas meio “nonsense”, ele citou como exemplo de algo que todo mundo tem certeza o fato de Isabella ter sido assassinada pelo pai e pela madrasta. E a explicação de tal certeza é tão evidente, que estranho mesmo era eu ainda não ter percebido.
Disse o grande pensador, em sua certeza, não poder haver evidência maior de culpa, que o fato de uma vez acusados de assassinos, ambos, ao invés de gritarem, espernearem, se descabelarem e outras esperadas ações, tenham simplesmente decidido escrever, cada um deles, uma carta.
É verdade! Isso não havia ainda chamado minha atenção. Como alguém acusado de um crime tão bárbaro, é capaz de parar para colocar tudo que está sentindo no papel? Que tipo de gente é essa, que em estado de profunda emoção recorre a papel e tinta para tentar se expressar?
Talvez se tivessem enviado um Power Point à imprensa ou, melhor ainda, por e-mail, não importa a quem, tivessem colhido a solidariedade de muita gente. Com uma carta, manuscrita, não há realmente chance para eles.
Vou parando por aqui, porque com essa história de ficar registrando minhas opiniões por escrito, vou acabar sendo acusado de algum crime também.