domingo, 8 de junho de 2008

Importado com o Exportado


Vou avisando logo que após esta crônica posso acabar sendo obrigado a entrar em exílio, assim retardando a publicação da próxima crônica. Pêsames. Sei que para alguns não será um grande incômodo, mas espero, como qualquer escritor, que este grupo não seja muito grande.
Esta semana tem sido repleta de conversas sobre o OMC e a proteção dos alimentos para que o mundo não sofra. Mas no meio de vários discursos eloqüentes, lembrei de uma frase cujo autor me escapa, que sempre surge na minha cabeça cínica quando se trata de economia global: Não existe comunidade global.
Vou explicar para não soar ingênuo. O que a frase questiona é a vontade de governos individuais de fazerem o melhor para o mundo inteiro. Será que governos são movimentados por vontades tão nobres no dia-a-dia das maquinas nacionais?
A verdade é que cada um joga por si mesmo. Esperando agradar os cidadãos de seu pais(alguns mais que outros). E uma reunião para decidir como o mundo vai lidar com a falta de alimentos, nada mais é que uma convenção onde o real interesse trata-se de “Como que eu vou proteger o meu”. Se não fosse, a reunião duraria duas horas onde primeiro se olharia quanto o mundo produz de cada coisa, depois quanto cada um consume. Uma vez feito, começariam as distribuições proporcionais a preços iguais para todos, sem subsídios ou taxas de importação malucas. Mas o que acaba acontecendo é que todos querem lucrar, e os interesses das empresas falam mais alto que as do consumidor. E no final acaba sendo o velho jogo capitalista: Winners and Losers.
Foi então que me surgiu uma pergunta que não consegui responder. Por que, então, precisamos da comunidade Internacional? Calma não estou dizendo que não deveríamos trocar e aceitar mercadorias estrangeiras como o Iphone (estou doido pra comprar). Mas o Brasil como quinto maior pais do mundo tem solo suficiente para produzir tudo que precisaríamos aqui dentro. E por acaso tem também um numero suficiente de desempregados, ou empregados em atividades ilícitas que se aproveitados de forma legal, seriam uma força de trabalho gigantesca. Quem sabe podíamos até montar nossas próprias industrias, incluindo as de telefones celulares brilhantes.
Mas e os salários? Quem vai trabalhar em agronegocio ou em alguma fabrica por um salário mínimo, quando pode ganhar um dinheirão no trafico do Rio? Bom, se o que sobra da arrecadação de impostos fosse usado para incentivar empresas que atuam no solo nacional invés das que funcionam fora do pais, como faz o BNDES que acaba de receber um aumento de 12,5 bilhões de nosso generoso Senado, resolveríamos a questão do salário mínimo em algumas semanas. Claro, não estou sugerindo que nossos impostos sejam usados para motivar a industria nacional e criar empregos. Isto seria um absurdo.(Aviso: Sarcasmo é a forma mais baixa de humor)
Não entendo como um pais como o nosso pode estar olhando pra fora quando o cenário interno esta tão mal. Afinal, quando eu pago impostos quero que estes sejam aplicados na manutenção dos espaços públicos, na proteção dos cidadãos, no prover de água e alimentos, e para financiar as instituições publicas, (Administração, Saúde, Justiça). Fora isto, sou obrigado a declarar que começarei a querer investir meu dinheiro no metro de Caracas (isso mesmo na Venezuela) como faz nosso sagrado BNDES, quando tudo aqui estiver funcionando. Aí, sim, podemos conversar.

Um comentário:

Paulo Borchert disse...

Caro Pedro,
Seu português está cada vez mais claro e correto. sua crônica está muito boa e atual. apareça na Oficina
Informal. estamos tentando editar o livro 4.
Um abraço