Esta semana diante de um novo temporal de acusações de corrupção obviamente verídicas, fomos comparados ao Chicago de 1930. Concorde ou não, não deixa de ser uma comparação forte. Para quem não conhece a historia se trata do gangsterismo de Al Capone. Um criminal admirável, para quem admira essas coisas. (no rio, aparentemente, todos)
Capone atuou na época da lei seca em Chicago, produzindo e distribuindo bebidas alcoólicas. A maioria de Chicago tinha uma empatia ao gangster, por discordarem da lei, inclusive os policiais que se beneficiavam do arrego e das bebidas. Até ai da pra ver uma semelhança com nossa cidade maravilhosa. Mas a diferença esta na dinâmica do problema.
Capone não fazia parte do governo. E embora seus subornos a vários membros do estado serem de conhecimento publico, quando finalmente foi pego pelo jovem Elliot Ness, perdeu um apelo nos tribunais e cumpriu 11 anos de prisão. Ou seja, quando a policia pegou, o Judiciário funcionou, e o bandido se danou (vou virar poeta). Mas é assim que funciona quando alguém é preso, cabe ao Judiciário apoiar ou reverter a ordem. Claro isso no primeiro mundo.
Na nossa terra porem, temos um sistema digamos um tanto diferente, mesmo assim igualmente fascinante. Aqui, o Legislativo pode libertar um homem! Isso mesmo, o órgão que faz as leis, também, aparentemente, pode julgar como elas estão sendo aplicadas. Esqueça aquela besteira sobre balanço de poderes.
Para quem chegou até aqui sem saber do que se trata, estou falando da decisão risível da Alerj de libertar Álvaro Lins. Álvaro como todo mundo já sabe, incluindo meu padeiro que é analfabeto e cego, é mais culpado que um padre num convento as três da madrugada. Parece, inclusive, que os únicos que não sabem disto são os 40 deputados que votaram na Alerj a favor da libertação.
Mas onde estão os nossos Heróis? Onde está o nosso Elliot Ness para arrastar o Capone até a prisão? E mais importante, onde está o nosso judiciário para garantir que ele fique lá?
Sem fazer apologia, existia lógica em Capone. Por mais infrator que ele era, por mais danoso à sociedade que ele pudesse ser, ele não era eleito, não se sustentava com finanças publicas ou as explorava. Ele não era um protetor da sociedade, era cidadão. E nisso Lins, consegue ser pior, pois abusou da confiança do cidadão.
Lins tornou ladrão do cofre publico no minuto que aceitou dinheiro meu, seu, nosso (como diz um grande jornalista) e agiu como um corrupto. Por isso ele deveria ser preso, e esquecido numa cela. E os membros da Alerj que agiram com intenções pervertidas igualmente.
Em realidade o caso só fez provar novamente que não existe coerência em nosso sistema. E os eventos desenrolam de uma maneira que nos deixam perplexos. A comparação é forte sim, e Chicago era um cenário cheio de corrupção e violência nos anos 30. Mas foi nesse mesmo cenário que o sistema quebrou o ladrão. Aqui ao invés, parece que o Ladrão infiltrou o sistema. E por isso me pergunto, com quem é a maior sacanagem da comparação: Nós ou Chicago?
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Um comentário:
Pedro
Lembro que o Capone só foi preso porque burlou o fisco. Por aqui, nem isso.
Òtima crônica. Vc está com uma pena afiadíssima.
Sds
Fabio
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