quarta-feira, 16 de abril de 2008

Coma tudinho, meu bem

Beatriz Botafogo

Lembro da minha mãe, quando eu era bem criança, dizendo que se eu comesse direitinho ganharia sobremesa. Esparramada no carpete da sala, examino os restos da minha orgia gastronômica... três pacotes de batatas fritas (800 calorias), 2 pacotes de pipoca de microondas (pipoca não conta, vai.) um mega milk shake (350 calorias), pizza (150 calorias por fatia – foram apenas três), uma porção de azeitonas (qual é? Contar caloria de azeitona é demais).

Bem, mamãe, sorrio para mim mesma, sua filhinha comeu tudinho e faz jus a sorvete.
Levanto pesadamente apoiando ambas as mãos no sofá, a sala roda. Engraçado. Não rodava assim antes. Deve ser o efeito da cervejada (esqueci de mencionar, mas é besteira, porque diurético faz até bem) que acompanhou os quitutes. Não faz mal, tomo um analgésico que passa. Tudo passa nessa vida. Sou otimista. Sou mesmo uma garota bem otimista. Tudo passa. Caramba, devo estar bêbada mesmo. To rindo sozinha. Observo minha silhueta no espelho. Faço uma referencia respeitosa. Putz, devo estar completamente bêbada.

Sirvo-me generosamente de sorvete. Eu mereço, penso, enquanto me aninho preguiçosamente no sofá, e puxo o cobertor até os joelhos. Observo a cobertura de chantilly spray condensando em contato com os floquinhos gelados. Que espetáculo. Robson (meu gato persa) roça minhas pernas pedindo carinho. Eu também sou uma gatinha. Ensaio um miado: - Miaaaaaaau!!! E... ops, black out.

Lembro de ter acordado e mirado o refletor e o teto branco do hospital que nem acontece em filme mesmo. Mamãe estava no canto da sala e não parecia muito feliz por eu ter comido tudinho. Tinha um outro cara também. Ah... sim, o médico. Cara, ele era hiper babaca. Fez um discurso gigante sobre misturar xenical e álcool. Tá por fora. Eu nem bebo (muito). Só tomo umas cervejinhas. Agora, xenical, tomo mesmo. É uma coisa que, tipo assim, todo mundo toma hoje em dia. Como ele acha que me mantenho magra/bonita? Enfiando os dois dedos na garganta é que não é (nessa hora eu lhe brindei com um sorriso branquinho). Tomar laxante é um lance que já passou. Até parece que esse cara não lê jornal. Não se atualiza. Eu, hein?

Um comentário:

Fabio Bastos disse...

Bia

Uma crõnica leve, de baixa calorias, fácil digestão e, sobretudo, saborosa.
Valeu!

Fabio