quinta-feira, 17 de abril de 2008

As duas pontas da vida

Mariza Raja

"O meu fim evidente era atar as duas pontas da vida e restaurar na velhice a adolescência.”

Eu não ataria as duas pontas.

Pois me sentiria preso a um passado de lembranças que trariam frustrações, amarguras, decepções e algumas alegrias.

E com a experiência e sabedoria acumulada ao longo dos anos, não conseguiria manter o meu idealismo, tão próprio da juventude, pois a minha inocência, há muito teria perdido.

Também não gostaria de me transformar em um velho caduco, irresponsável e transgressor com uma volta à uma adolescência fugaz e fictícia.

No entanto, quando paro para pensar no amor viveria apaixonado por ele e me esqueceria de tudo o que eu disse acima.

Aí sim, seria como um retorno àquele jovem adolescente teimoso, que luta, tenta, falha, mas não perde a oportunidade de viver grandes e novos amores.

E assim gritaria: “Eu te amo! Você me faz o homem mais feliz do mundo!, mesmo que fosse só naquele momento.

E quando nos encontrássemos, eu lhe entregaria uma flor ainda em botão em meio a abraços e beijos enquanto meu coração sorrindo espocaria como fogos de artifício.

Passaria a usar melhor o tempo que tenho e não viveria no cume da montanha mas, subiria a sua encosta à procura da felicidade.

Andaria de mãos dadas com meu amor , descalço na areia molhada, deixando a chuva embaçar meus óculos, até cair extenuado de cansaço, enregelado com o coração aquecido por aquele momento.

E a cada paixão arrefecida, não teria vergonha de chorar para lavar a alma e recuperar as forças da dor inevitável.

Não teria medo, mesmo não conseguindo mudar a direção do vento, de ajustar as minhas velas em direção a minha amada.

Assim a minha velhice vivida na adolescência presente, me levaria a um futuro ausente, intocado, como as coisas belas da vida, que foram feitas para serem sentidas.

Então, entenderia e aplaudiria a frase do grande Machado de Assis:”O meu fim evidente era atar as duas pontas da vida e restaurar na velhice a adolescência.”

Um comentário:

Fabio Bastos disse...

Mariza

De uma frase difícil vc soube compor uma crõnica bem ao seu estilo. Machado de Assis, autor da frase, assinaria embaixo.
Parabéns!

Fabio