sexta-feira, 8 de agosto de 2008

BEETHOVEN RESSURGE

Sergio Medina Quintella

[Tocam a campainha lá de casa, e eu abro a porta]
[Penso] “Ué, quem é esse cara com cara de alemão e muito parecido com Beethoven”
-Bom dia, o que deseja ?
- Não se assuste, meu nome é Ludwig Van Beethoven. Acabo de ressurgir neste mundo e ,primeiramente, estou admirado de poder me comunicar no seu idioma, e o senhor é a primeira pessoa com quem estou mantendo contato desde que acabei de sofrer o fenômeno da ressurreição;
[Penso] “ Cara,era só essa que me faltava. Esse negócio de ressurreição e ainda por cima com Beethoven...
-Por favor entre, disse-lhe. Em que posso lhe ser útil, apontando para minha varanda.
- Depois desses séculos todos, minha enorme curiosidade acabou por despertar em mim uma vontade de tal ordem que o fenômeno da ressurreição se fez muito naturalmente,mas eu mesmo estou ainda sob forte impacto;
-Quer um café?, falei, tentando ser gentil, mas por dentro,ainda muito desconfiado com esse negócio de ressurreição...., Beethoven....;
-Olhe, senhor, procure se acalmar, eu não represento nenhum perigo, disse o “Beethoven”;
-Tá bom, senhor, aceite este café. Meu nome é Sergio. Não precisa me chamar de senhor;
- Sergio, sei que os tempos mudaram de uma forma extraordinária. Hoje a tecnologia praticamente domina o homem. No meu tempo não era assim. Por isso estou ávido de informações e de conhecimento do mundo atual. Pode falar normalmente porque com a ressurreição, minha surdez passou;
-Senhor, não sei se seria capaz de colocá-lo a par do mundo atual como talvez merecesse em vista da sua respeitável contribuição para a cultura musical da humanidade,mas também não gostaria de deixá-lo sem nada conhecer e sair daqui de casa praticamente como chegou. Estou à sua disposição;
- Sergio, minha carreira e obra musicais foram feitas em cima do cravo e do piano. Escrevi muitas partituras compondo obras para orquestras completas, de câmera, duetos, quartetos para violino, chello enfim,muita coisa, como talvez você tenha ouvido falar. Como está o ambiente musical atualmente?
- [A essa altura,já me considerava mais íntimo].
- Beethoven, disse-lhe , desde uns tempos para cá, mais ou menos 30 a 40 anos, estamos vivendo a era da música eletrônica;
- Eletrônica? Que negócio é esse ? Que é isso?
-Um tal de Benjamim Franklin descobriu a eletricidade e a partir daí alguns cientistas e pesquisadores começaram a inventar aplicações para ela. A música eletrônica tem os sons dos instrumentos produzidos pela eletricidade. Hoje há um aparelho chamado “teclado” que imita com perfeição praticamente todos os tipos de instrumentos musicais, e ainda por cima dá o acompanhamento e o ritmo que se deseja;
-Fantástico !!, onde posso dar uma olhada nesse tal de teclado?
-Ele pode ser visto e experimentado em qualquer loja de instrumentos musicais.É só entrar e se dirigir ao vendedor, mas eu não aconselho de imediato fazer isso não porque vai dar uma tremenda confusão, ou melhor, convulsão.
-Vamos pensar um pouco mais como fazer isso e por enquanto falarei mais alguma coisa.
-Não se assuste muito com o que vou falar,mas nos tempos em que vivemos, você pode ir tocando no teclado de um computador e ele grava a composição num arquivo e depois você pode imprimir a partitura .Ela já sai impressa direto de um aparelho chamado impressora.
-Esse negócio de computador dói muito? É dor forte? É assim que se compõe?
-Nada disso seu “Beethoven”, computador não quer dizer que a dor é fortíssima e sim que se trata de um equipamento eletro-eletrônico.
-Eletro o que? Quero conhecer esse tal de Benjamim Franklin, o que você diz que inventou a eletricidade.
-Ele já morreu há séculos. O melhor que posso fazer agora é lhe mostrar um computador. Entre aqui no meu escritório. Lá está naquele canto. Junto com ele está aquela janela de vidro que chamamos monitor e aquele outro aparelho meio quadradinho,que chamamos impressora. Com isso, Beethoven, você tem uma orquestra inteira.
-Sergio, posso tentar recompor a 9ª Sinfonia? . Na época em que a compus, já estava totalmente surdo.
-Seu “Beethoven”, o senhor não me leve a mal,mas poderia voltar para onde estava e retornar daqui uns tantos meses?
-Ué, por que?
- Preciso da ajuda de um profissional chamado psicólogo, apoiado por um outro que denominamos psiquiatra. Acho que só eles podem fazer-me entender o que está se passando.
Depois,eu prometo que vou levá-lo para ver um teclado e mais tarde ensiná-lo a mexer nesse computador. Agora, não dá não. Dá licença e passe bem...digo-lhe,abrindo a porta de casa..

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