domingo, 16 de março de 2008

Créu na praça

Fabio Bastos

— Ouve só essa: a Holanda vai liberar sexo nas praças públicas.
— Como é que é? Sexo mesmo, transar pra valer?
— É o que tá escrito aqui no jornal.
— Quer dizer que o cara escolhe uma mulher numa daquelas vitrines e vai experimentar na praça. Se não gostar volta pra trocar por outra.
— É isso aí. Ou ele pode pegar uma mulher num barzinho, pedir um baseado pra viagem e ir desfrutar a erva e a mulher num parque das redondezas. Tudo dentro da lei.
— Isso é que é país avançado, não é aquela caretice dos Estados Unidos que derrubou o governador de Nova York só porque saiu com uma garota de programa. E olha que ele nem pagou com cartão corporativo.
— Mas eles vão se danar porque o vice que assumiu é cego. Não vai ver nada, igual ao nosso presidente.
— A Holanda sempre esteve na vanguarda. A nossa ministra de Sexo e Turismo devia dar um giro por lá e tirar umas idéias em vez de ficar mandando a gente relaxar e gozar.
— Essa de transar em praça pública é uma boa, ao ar livre, com flores e passarinhos cantando em volta. Dá pra fazer sexo e ainda pegar um bronze. É muito mais saudável do que em motéis.
— No inverno é que vai ser dureza. Lá faz um frio terrível.
— Eles dão um jeito e botam aqueles casacões de pele. Vão parecer dois ursos se acasalando na neve.
— Será que qualquer um pode fazer sexo nas praças, ou vai ter que ter licença?
— Talvez tenha que tirar uma carteirinha. O problema vai ser onde pendurar a carteirinha quando o casal estiver em atividade.
— E pode ser em qualquer lugar da praça?
— Aqui diz que tem ser longe das crianças. O playground tem que ficar de um lado e o fuckground do outro, cada qual com seu trepa-trepa.
— O que mais diz a notícia?
— Diz também que os policiais não podem interferir, a menos que o casal esteja perturbando a ordem pública.
— O que será perturbar a ordem pública numa trepada?
— Sei lá. Vai ver que só pode fazer papai-e-mamãe e não vale gemer alto.
— Deve ser por aí. Será que pode sexo grupal?
— Uma suruba ao ar livre, você quer dizer.
— Isso mesmo. Uma festinha de final de ano, de aniversário, de formatura.
— Por que não? Desde que não perturbem a tal ordem pública e no final deixem tudo limpo. Não pode é se lavar no laguinho da praça e deixar preservativos espalhados pelo chão.
— E o sexo vai ser liberado em qualquer praça?
— Acho que sim. Eles só vão ter que alterar as placas dos gramados. Vão ter que colocar – É proibido pisar e trepar na grama.

4 comentários:

Paulo Borchert disse...

Fabio:
Está ótima! Dentro do seu melhor estilo cômico, o tema foi muito bem explorado. O termo "fuckground" é muito bem sacado e deverá ir para a próxima edição do Aurélio. O final também não poderia ser melhor. Eu acho que vc deveria ter guardado esta crônica para a primeira reunião da Of.5, pois na minha opinião esta vai para o livro.

Beatriz disse...

Fabio! Maravilhosa! gancho e desfecho perfeitos! Ótimo tema. Me fez rir!

Maria Teresa disse...

Fábio! Que maravilha!
Dei boas gargalhadas em plena sexta-feira da Paixão.
Agora tenho um "pornovô" para me fazer companhia.
Minha filha está de mudança para a Holanda e espero verificar "in loco" a eficácia da iniciativa.
Atenção: verificar como observadora, claro!
Depois eu conto...

Fernando Goldman disse...

Fábio

Só hoje estou entrando no blog e, mesmo atrasado, quero dar os parabéns pela felicidade de crônica que você produziu.

Eu aqui cheio de historinhas, clamando às mulheres que se apaixonem e você atacando de "fuckground".

Sinceramente, não sei se vou ter pique para acompanhar vocês.

Ainda vou ler as outras, mas essa já valeu a visita.

Parabéns

Fernando Goldman