Paulo Borchert
Vinte e um de julho de 1958. Lembro-me bem da data porque era o aniversário de meu irmão, e estávamos em plena Copa do Mundo de futebol. Tínhamos acabado de mudar para um apartamento no terceiro andar na Rua Alberto de Campos em Ipanema, num prédio antigo sem garagem, que era rara na época, pois havia poucos carros em circulação. Meu pai tinha um Hudson Hornet cor de cobre, um daqueles carrões americanos enormes que ficava estacionado em frente ao prédio. Tínhamos combinado na véspera de irmos ao Cristo Redentor e à noite teria um bolo em casa para a família e alguns amigos.
Meu pai ao acordar se surpreendeu com a ausência do carro na rua e saiu gritando pela casa:
-- Roubaram meu carro! Roubaram meu Hudson!
Roubo de carro era raro naquela época, e ele após dar queixa na polícia, pegou o carro do meu tio emprestado e fomos ao Cristo conforme combinado. Ainda me lembro da imagem de meu pai debruçado na mureta do Corcovado olhando para a cidade lá embaixo, como se procurasse seu carro.
À noite estávamos em casa na festinha de aniversário de meu irmão, quando tocou o telefone. Meu pai ao atender começou a xingar algum provável amigo que lhe passava um trote, dizendo ser o ladrão do seu carro, e bateu com o telefone, praguejando e justificando sua irritação. Logo em seguida o telefone tocou outra vez e meu pai pediu ao meu tio para atender. Meu tio Nelson dialogou por alguns instantes e contou o que ouvira:
-- Era o ladrão de novo. Ele disse que não é ladrão, e só pegou o carro pra sair com uma moça, e que o deixou na Rua Prado Junior em Copacabana, em frente à agência Pavão. Ele se desculpou pelo transtorno, dizendo que pretendia deixar mais perto daqui, mas acabou a gasolina.
Meu pai resmungou dizendo que era trote, pois tinha comentado sobre o roubo com vários amigos, e que meu tio era bobo de ter dado trela.
Meu tio disse que o ladrão falou de uma gravata verde que estava no porta-luvas, e alguns vidros de remédios em uma caixa na mala do carro.
Foi aí que meu pai se tocou que podia ser verdade apesar do inusitado da história, e após insistência do meu tio resolveram ir até o local indicado, ainda com a suspeita que só iriam encontrar com algum amigo palhaço.
Chegando ao local lá estava o Hudson estacionado, intacto.
Foram até um posto, compraram um galão de gasolina, e meu tio que era dono de uma oficina mecânica fez o carro pegar, após tirar o ar do carburador. Voltaram para casa a tempo de comerem o bolo e festejarem duplamente
Parece piada ou invenção de cronista, mas é a pura verdade.
Já não se fazem mais ladrões como antigamente!
domingo, 23 de dezembro de 2007
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2 comentários:
Muito boa, Paulo! A vida da gente é repleta de boas crônicas, né? É ótimo quando conseguimos transpô-las para o papel. E um roubo de carro, como esse, não podia deixar de virar história!!!! Uma boa história!!!!
BEIJOS!
Paulo,
nossa memória pode armazenar verdadeiras pérolas.
Esta é ótima!
Parabéns!
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