Um canto de liberdade
Nasci com o maravilhoso dom de voar!
Ainda me lembro de meus primeiros vôos em companhia de meus pais, quando, procurando imitá-los, sacudia freneticamente minhas frágeis asas, deliciando-me com a sensação do vento passando pelo meu corpo! O mundo visto de cima é ainda mais belo!
Ainda pequeno, comecei a alçar vôos cada vez mais altos e distantes de meus pais, e num triste dia, na minha curiosidade de jovem e na ilusão de alimento fácil, acabei ficando preso em uma armadilha que o homem chama de alçapão.
Agora vivo preso em um cubículo que o homem chama de gaiola, onde não me sobra espaço para voar, e tenho que me contentar em ficar pulando de um pedaço de pau para outro. Meu alimento é sempre a mesma coisa, alpiste e água. Não posso escolher uma fruta madura ou uma minhoca.
Mais cruel ainda, o homem me coloca na varanda de sua casa, onde fico olhando outros pássaros, soltos, voando livres e cantando felizes.
Eu também canto, mesmo preso na gaiola. Não devia cantar, mas canto para mostrar ao homem que esse dom ele não pode me tirar. É um canto de revolta!
Se um dia o homem que me prendeu fosse colocado em um pequeno quarto, onde só houvesse uma mesa e uma cadeira, espaço suficiente para dar um ou dois passos e lhe dessem todos os dias um prato de comida igual e um pouco de água, onde só tivesse uma pequena janela com grades que lhe permitisse ver as outras pessoas andando livres e soltas, talvez ele pensasse em me libertar.
Pode ser que na minha inexperiência eu não conseguisse sobreviver por muito tempo, mas tenho certeza que mesmo neste tempo curto eu seria muito mais feliz, nos meus vôos livres.
Prometo que viria todos os dias cantar na varanda dele, um canto alegre.
Um canto de liberdade!