Therezinha Mello
O jornal Folha de São Paulo publicou tirinhas em branco no último sábado. O vazio de histórias, tocante e definitivo, falou por Angeli, Laerte e demais cartunistas. Todos companheiros de Glauco, que sempre têm o que nos dizer sobre o cotidiano, em traços e estilos próprios, poucas palavras e alguma cor. A morte do amigo, no entanto, deixou o silêncio que não souberam justificar nem preencher.
Os personagens de Glauco, sempre com muitos braços, eram capazes de executar gestos variados e simultâneos, em multiplicidade irreverente. Até que algum fator surpresa, contundente como a queda de um ferro de passar, interrompesse o caminhar esperado dos acontecimentos. Glauco era cartunista, compositor, líder religioso, palhaço, cronista. Criança multifacetada. Livre.
Dona Marta, a secretária encalhada, o Casal Neuras, Geraldinho, viciado em refrigerante, televisão e sorvete. Seringas com vida própria. Edmar Bregman, uma câmera na cabeça e uma ideia na mão. Sua obra era um conjunto crítico, provando que humor é sempre contra. Divertidamente contra. Louco e irreverente. O assassinato de Glauco calou a todos nós, de espanto, susto e indignação. Tornou-nos tirinhas em branco. Respeitosas e mudas. Tristes e ocas. Sem braços.
Uma jornalista lembrou a visita que fez há tempos, com o quadrinista, a um alto executivo bem sucedido. Gestos previsíveis, cabelo certinho, terno, gravata e mesa impecáveis. Ao deixarem o escritório, Glauco com seu jeito livre, despenteado, jeans gastos, camiseta, teria comentado sobre o empresário: “ – Mas tem cada gente doida neste mundo, não é não? ”.
quinta-feira, 18 de março de 2010
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