Therezinha Mello
Na ciranda das primeiras infâncias eu girava. Cirandinha. Tímida. Pés miúdos sobre o cimento do quintal. Tudo era leve e fluido. Experimentava o mundo, em dança que não tinha pressa. Seguia cirandando como se nada mais fosse necessário. Ou urgente. Em meia volta divertida e tonta. Todo retorno era possível àquela altura. Girava a ciranda solta dos corações ingênuos. Meia volta. Volta e meia. Na singeleza do universo de poucas notas e muitas canções.
“- Depois vai ter que falar um verso.”. “- Qual?”. “- O Sou Pequenininha!" “- Esse não. Todo mundo já sabe.”
Todos cirandavam. Quando a mão desgrudou-se da minha, eu nem esperava. O gesto brusco fez quebrar o anel de vidro. O que tu me deste. Meus dedos tatearam entre cacos minúsculos. O desespero de não poder colar. No dedo a marca. O elo que se foi. Ficou-me algo do amor que me tinhas. Que era muito, mas que acabou assim mesmo. O amor que tu me tinhas se acabou. Hoje não uso anel e evito amores. Porque sei que já não vamos todos cirandar.
Na ciranda das novas infâncias, a descoberta de que o giro permanece. Na roda de cada hora a fria constatação. Quem sai. Quem entra. Quem vai embora e nem diz adeus. Nem um verso, mesmo não sendo bem bonito. Nem ciranda, nem cirandinha. Já não há mais tempo para dar a volta. Outras mãos entrelaçaram as suas fortemente. As minhas também já possuem novos pares. Nova ciranda começa. Vamos todos. A dança de hoje tem mais pressa.
sexta-feira, 11 de setembro de 2009
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