segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

NATAL

A esperada notícia de todo final de ano está no ar: nas conversas dentro de casa ou no trabalho, nas ruas, na praia, nos bares, nos encontros casuais, não se fala em outra coisa. Chegou o Natal. Respira-se Natal em todos os cantos. O assunto é agradavelmente inevitável. A cidade se ilumina. Não dá para ficar alheio. Na verdade, ninguém deseja ficar alheio. Ainda é novembro, mas já é Natal.

O comércio, a cada ano mais cedo, alardeia a chegada da festa e incentiva o consumismo. Contagia e agita a população. Certamente, o décimo terceiro, todo ou em parte, será destinado aos gastos do evento. Quem tem muito, gasta muito; quem tem pouco, gasta pouco. Impossível é deixar de gastar.

Preparar a árvore, resgatar os enfeites do ano anterior, verificar as velas, arrumar o presépio, aprontar a guirlanda da porta, tudo precisa ser cuidadosamente providenciado e nada pode ser esquecido.

Elaborar a lista de nomes para os presentes é tarefa prioritária. Prioritária e muito fácil. Difícil mesmo é, durante dias, conviver com a estressante indecisão das escolhas e enfrentar o calor e o tumulto das lojas. Difícil mesmo é compatibilizar a lista dos presentes com a grana disponível. Então, pesquisar preços é preciso. Nesse momento, surge um complicador: se a grana está curta, o melhor é cortar nomes ou simplificar a lembrança ? Doce problema. Mas uma coisa é certa: ninguém pode ficar de fora. Logo... Impossível também é abrir mão de usar uma roupa nova para esperar Papai Noel. Nem pensar. Afinal... É Natal.

Quando chega dezembro é declarada aberta a temporada das listas, caixinhas e livros de ouro. São os porteiros do prédio, o entregador de jornais, o carteiro, os frentistas do posto de gasolina e, nada de estranhar se aparecer também a do malabarista do sinal de trânsito e a do vendedor de “biscoitos Globo” da praia. Ah !... Saiba que é pecado mortal esquecer as professoras das crianças e o filhinho da faxineira. E haja grana !!!... Esse ano mesmo, tive até que






contribuir para a caixinha natalina do entregador de pizza. Fazer o quê ? Nada. Afinal... É Natal.

-- Amor, não podemos esquecer de comprar a roupinha e os sapatos do Pedro Henrique, nosso afilhadinho do orfanato. A diretora telefonou ontem nos lembrando que a festa deles vai ser no próximo domingo.

E a ceia ? É preciso providenciar os ingredientes para a ceia. E mais uma vez, nada pode ser esquecido.

“Hummm... Deixa ver... Este ano vão estar conosco umas dez pessoas. Não !!! Tem ainda a Dorinha e o Valter. Eles garantiram que virão. Bem... Bacalhau, farofa, salada de maionese, rabanadas... Acho que vou pedir à Dona Arlete para trazer aquele pavê de nozes. Todo mundo gosta. Faz sempre o maior sucesso. Ah!... Tenho que lembrar ao Beto para encomendar o vinho e comprar os refrigerantes”.

-- Paulinha, não esqueça de comprar o CD do Padre Marcelo.

E chega o grande dia. A grande noite.

A árvore está iluminada e linda. Os pacotes dos presentes coloridos ao pé da árvore dão um toque especial. A mesa está posta. Farta. Perfeita. Irretocável. As bebidas geladas, no ponto.

Meia noite.

Estão todos reunidos, alegres e felizes. O barulho é grande. Todos cantam, todos se cumprimentam na maior algazarra. Dão e recebem presentes. Agradecem e se abraçam ruidosamente. Tudo acontece ao mesmo tempo. Quase um tumulto.

Sentam-se à mesa. É a hora da ceia.

-- Será que há lugar para todos ? Alguém pergunta.





-- Sim, claro que sim.

Todos comem. Todos bebem. Todos falam.

-- Patrícia, pode me passar o prato da farofa, por favor ?

Duas horas da manhã. Agora sobressaem apenas as vozes daqueles que abusaram um pouco do vinho. Todos parecem cansados. A digestão difícil impede que o sono se instale completamente.

A festa acabou. Mas algumas perguntas pairam no ar:
-- alguém lembra o que acabamos de comemorar ?
-- alguém lembrou de cumprimentar o aniversariante ?
-- será que todos sabem quem é o aniversariante ?
-- será que essa é a melhor maneira de comemorar o Natal ?

Natal: tempo de tudo isso, mas, sobretudo e principalmente, tempo de parar e refletir.



Feliz Natal/2008
CARLOS MELO

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